sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

2ª Guerra Mundial - O Plano Felix


A queda de França na Segunda Guerra Mundial iniciou uma preocupação francófila face à probabilidade do desenvolvimento de ideais comunistas em território nacional.  É face a esta probabilidade que começam a surgir os primeiros conceitos de rendição, face ao poderio Alemão.
Esta perspectiva contemplava acima de tudo a preservação das tropas, em número suficiente para combater a desordem pública face a uma possibilidade os alemães poderem “... tomar o Poder numa Paris abandonada...”[1]
Inglaterra, face à realidade iminente, fazia pressão para que o Governo Francês continuasse a guerra a partir do Norte de África, contudo Weygand e Petain opunham-se a esta ideia convencidos de que a ausência do Governo em território francês levaria à explosão do caos.
Logicamente o interesse inglês residia no prolongamento do período de tempo, necessário para os Ingleses se prepararem para a eventualidade dos ataques alemães. Contudo a queda francesa era iminente, pelo que, a 16 de Junho, assume o poder Petain, presidindo um novo Conselho de Ministros. “...a III República estava efectivamente morta.”[2]
A partir deste momento Petain eleva-se com um único objectivo, alcançar um armistício que acabou por se consagrar a 25 de Junho. Deste acordo ficou assumido que a “... Whermacht iria ocupar a metade norte de França e a Costa Atlântica...[3]. Esta ocupação permitia um confronto directo com Inglaterra, da mesma forma que fornecia aos alemães a entrada nos Pirinéus, em caso de se confirmar a necessidade de avançar sobre o território Espanhol.
Por sua vez vez Petain fundou o seu Governo na localidade de Vichy, dando origem ao conceito a “França de Vichy”.


De início o propósito de Hitler era deixar a região mediterrânica à esfera de interesse italiano, contudo depressa descobriu que a ocupação francesa detinha questões mais problemáticas do que estaria à espera.
Acima de tudo tinha de “... tentar equilibrar as expectativas incompatíveis de Itália, da França de Vichy e da Espanha de Franco.[4] Na perspectiva de Hitler seria mais proveitoso que o governo francês se policiasse a ele próprio, assim como às colónias no Norte de África em nome dos interesses alemães.
Na prossecução deste objectivo Hitler marcou um encontro com Franco em Hendaye, território esse localizado na região administrativa da Aquitânia, nos Pirenéus Atlânticos (área de influência alemã), com o objectivo de aliciar Espanha a entrar na guerra e consequentemente a autorizar a entrada das tropas em território espanhol, com o fim de tomar Gibraltar e os Açores e Cabo Verde.

“O Fuhrer vê o valor dos Açores em dois aspectos. Quer tê-los para os ataques à América e para depois da guerra.”[5].





Outro objectivo era precisamente o combate contra a Grã-Bretanha, onde pretendia construir uma “vasta frente” de forma a aumentar as probabilidades de vencer o ataque.




No decorrer desse encontro Franco reiterou as inúmeras passagens da Guerra Civil Espanhola, em que ambos tinham sido “camaradas de armas”, contudo acabou por concluir que derivado da situações ruinosa de Espanha, caracterizada pelo fraco desenvolvimento económico e frágil capacidade militar, seria impossibilitado de auxiliar Hitler entrando numa nova guerra.
Esta renúncia poderá também ter estado relacionada directamente com o pacto de não-agressão, decorrente dos acontecimentos da Guerra Civil Espanhola, assinado em Março de 1939, onde se encontrava previsto no artigo IV que as partes eram obrigadas “...a ressalvar as obrigações no pacto em qualquer acordo ou tratado contraído no futuro com terceiras partes.”[6] Esta cláusula representava uma salvaguarda para Portugal reforçando o compromisso espanhol em nada negociar com outros países, acções que pudessem colocar em causa a independência portuguesa.
Mais tarde, em 29 de Julho de 1940, é assinado um Protocolo Adicional ao Tratado de Amizade e Não Agressão, salientado-se “... a obrigação de concertação mútua em caso de ameaça à inviolabilidade dos respectivos territórios metropolitanos e à segurança ou independência de uma ou de ambas as partes...[7], este protocolo vem reforçar o compromisso anterior na não beligerância entre as duas nações.
Outro aspecto de extrema importância que levou à renúncia foi a dependência das importações de cereais e petróleo, oriundos da Grã-Bretanha e Estados Unidos. O avanço para a Guerra resultaria no corte destes abastecimentos, situação essa que seria impossível de compensar pelo apoio alemão.
Não obstante esta decisão, os planos de invasão perante Portugal mantiveram-se, tanto por parte da Alemanha, que após a contrariedade imposta por Franco, decidiu focar a sua atenção para Este; como pela própria parte de Franco[8].
Assim sendo, apesar de começar a focar os seus propósitos em outros objectivos, no início de Novembro Hitler “... preparou planos de contigência com o nome de código Operação Felix para a captura de Gibraltar e das ilhas atlânticas”[9].
Independentemente dos objectivos para com as terras ibéricas, Hitler decidiu deixar os seus planos de conquista de Gibraltar e de Portugal para mais tarde e focou-se no combate a Inglaterra.
Convencendo-se de que a forma mais fácil de obrigar os britânicos a ceder, seria derrotar a União Soviética, deu início à Operação Barbarrossa, suspendendo o Plano Félix e aplicando as tropas que estariam anexas a este nas operações contra o Leste.
E assim começou o declínio alemão.





[1] BEEVOR, Antony(2012), A Segunda Guerra Mundial, Bertrand Editora, p.165.
[2] Ibidem, p. 168.
[3] Ibidem, p. 172.
[4] Ibidem, p. 199.
[5] Ibidem, p. 200.
[6] PEREIRA, Bernardo Futsher (2012), A diplomacia de Salazar, Dom Quixote, Lisboa, p181.
[7] RIBEIRO, António Silva (2004), Organização Superior de Defesa Nacional, Prefácio, Lisboa, p.182.
[8] Foi recentemente exposto por Manuel Rós Agudo o plano do Alto Estado-Maior Espanhol onde se previa que, em simultâneo com o ataque a Gibraltar, de forma a antecipar qualquer resposta inglesa, Espanha lançaria preventivamente uma invasão a Portugal com o objectivo de ocupar o território continental.
[9] BEEVOR, Antony(2012), A Segunda Guerra Mundial, Bertrand Editora, p.202.



Bibliografia

- BEEVOR, Antony (2012), A Segunda Guerra Mundial, Bertrand Editora, Lisboa.
- PEREIRA, Bernardo Futsher (2012), A diplomacia de Salazar, Dom Quixote, Lisboa.
- RIBEIRO, António Silva (2004), Organização Superior de Defesa Nacional, Prefácio, Lisboa.

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