quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O interesse geoestratégico americano dos Açores

A data concreta da descoberta dos Açores é ainda hoje motivo de discussão nos meandros dos fóruns de história.A existência de mapas genoveses que datam de 1351 aparentam identificar movimentações marítimas entre 1340 e 1345, na altura do reinado de Afonso IV, contudo independentemente da imprecisão da história, a sua importância geoestratégica sempre se destacou. Não obstante a importância que teve na expansão marítima de Portugal, o seu valor no âmbito das relações internacionais, nos moldes que conhecemos hoje, iniciou-se no final do Séc. XIX, mais propriamente no decorrer da guerra Hispânico-Americana em 1898, altura em que os Estados Unidos começaram a compreender os benefícios estratégicos associados a uma base no meio do Atlântico. Este conflito representou fim do império espanhol e o início do poderio americano pelo mundo, de onde adveio a conquista do Hawai e Guam. Neste âmbito e com o decorrer da história surge o primeiro interesse norte-americano pelas ilhas portuguesas, ao que, aquando da I Guerra Mundial, Ponta Delgada começa a ser idealizada para a criação de uma base militar destacada, à imagem do Hawai, sendo mesmo visitada em 1918 pelo, na altura, Sub-secretário da Marinha do Governo Federal, Franklin Roosevelt.
Foram assim iniciadas as primeiras conversações que acabaram por servir de sustentação à presença norte-americana em território português. A sua valorização acresce no final da I Guerra Mundial, mais propriamente na década entre 20 e 30, com o desenvolvimento tecnológico associado à telegrafia sem fios e e no domínio da navegação aérea transatlântica. 
Com o despoletar da II GM o papel geoestratégico associado ao mar, viria a partir desse momento ser partilhado e explorado pela aviação, voltando o interesse dos EUA perante as ilhas a ser reafirmado.
É assim que a 28 de Novembro de 1944 é elaborado o primeiro acordo entre os Governos de Portugal e dos Estados Unidos e em que se concede a autorização para a criação de uma base naval e aérea na ilha de Santa Maria, tendo as Lajes já sido contempladas num acordo Britânico-Português, onde foi autorizada a criação de uma base naval e aérea a ser utilizada durante a guerra.
Com o final da Segunda Guerra Mundial e a saída dos ingleses das Lajes, dá-se então a transferência norte-americana para a Base das Lajes. Desde então que a presença americana nos Açores tem sido um bastião na política externa portuguesa, tendo possibilitado um contributo directo no impacto dos americanos pelo mundo. Claramente associado encontra-se o desenvolvimento económico da ilha, ao que após diversas décadas de coexistência, foram criadas dependências sociais e até mesmo culturais que têm perdurado.



A consecutiva redução do efectivo militar americano tem vindo a afectar claramente um microclima social de forma bastante negativa, tendo a última decisão norte-americana de retirar dos Açores 500 militares e civis e de despedir 500 portugueses, representar uma forçada e indesejada mudança.
A presença dos restantes militares americanos permite assim garantir a manutenção de uma base que foi perdendo o seu valor estratégico directo (face à crescimento exponencial da tecnologia), mas em que a presença de outras nações que não se encontrem alinhadas com os interesses no âmbito da NATO, e mais especificamente com os EUA, poderão representar uma ameaça. Os Açores vivem assim um período conturbado, onde impera a necessidade de resolução, seja ela num âmbito de reformulação do acordo  Luso-Americano, ou na procura de novos parceiros estratégicos. O que urge compreender é que a presente realidade tem impacto directo, não só na vida da população, mas acima de tudo na política externa portuguesa, a qual não pode de forma alguma ficar hipotecada perante interesses que não se coadunem com os nacionais. 




Sites consultados:

- http://multescatola.com/lenciclopedia/lajes-storia-distaccamenti-luso-civile-di-lajes.html

- http://www.areamilitar.net/HISTbcr.aspx?N=38

- http://www.historiadeportugal.info/a-descoberta-dos-acores-e-da-madeira/

- http://www.ipri.pt/investigadores/artigo.php?idi=8&ida=138

-  http://www.revistamilitar.pt/artigo.php?art_id=557

- http://www.scielo.oces.mctes.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1645-91992011000400010

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