A Ucrânia e a Crimeia possuem um longo cordão umbilical que as liga directamente à história da Rússia e que remonta à época anterior à formação da antiga União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS). Durante o Séc. XVIII a Ucrânia foi anexada pela Rússia e a Crimeia representou o palco de inúmeros confrontos que influenciaram toda uma perspectiva geoestratégica da região. Destes destaca-se o envolvimento com a Rússia, contra o Império Otomano, França e Reino Unido. A Crimeia foi utilizada pela Rússia para iniciar uma política de expansão pelo Mar Negro e o Mar de Azov, com o objectivo de chegar a Constantinopla (actualmente Istambul) e anular a influência do Império Otomano na região.
Além das óbvias razões estratégicas que impulsionaram este movimento, destacou-se também uma postura proteccionista dos Cristãos Ortodoxos que viviam na região. Após três anos de guerra e mais de 750 mil mortos, a Rússia acabou por não conseguir o seu objectivo, contudo, firmou-se em terras de Crimeia e aí delimitou a sua influência. Com o final da I Guerra Mundial e o desmembramento da Rússia Czarista, deu-se a formação da URSS, onde foram incluídas a Ucrânia e a Crimeia. A partir de então a Crimeia passa a constituir-se como um ponto de referência, não só para história da Rússia, como do próprio Mundo. Além de ter sido o terreno de confronto entre o exército vermelho e as tropas de Hitler, durante a II Guerra Mundial, foi ainda palco da recepção de Winston Churchill e Franklin Roosevelt por Estaline, em Ialta, na data de 1945, acontecimento que acabou por ficar conhecido pelas Conferências de Ialta (que definiram o fim da II Guerra Mundial e a repartição das zonas de influência).
Em 1954, num acto que simbolizou o 300º aniversário da data em que a Ucrânia se tinha tornado parte integrante do Império Russo, Nikita Krushov transferiu a Crimeia para a República Socialista da Ucrânia. Este acontecimento foi tema de discussão das mais variadas opiniões, ficando como mito popular o facto de que esta decisão foi tomada pelo líder soviético numa noite de embriaguez.
O desmembramento da União Soviética em 1991, levou à reorganização dos territórios, pelo que a Ucrânia assumiu-se novamente independente, transportando consigo o território da Crimeia e os consequentes 58,8 % russos da população que habita no território.
Face a esta contingência, o resultado foi a transformação da Crimeia para uma República Autónoma (desde 1992) dentro do território Ucraniano, tendo a sua própria Constituição desde 1999.
A longa ligação histórica da Rússia com a Crimeia permitiu desenvolver dependências estratégicas e económicas entre a Ucrânia e o Estado Russo, de tal forma que a maior parte da frota russa no Mar Negro, encontra-se na Crimeia, com base na cidade ucraniana Sebastopol. Em troca a Ucrânia tinha a possibilidade de consumir o gás da Rússia a preços bastante reduzidos, criando assim uma dependência energética acentuada pelo país vizinho.
As ligações comerciais da Rússia com a Ucrânia, até à data de 2009, permitiam à Rússia um monopólio dos dos seus interesses na área do Mar Negro sem rival, contudo, o desenvolvimento da Parceria Oriental da União Europeia (onde se encontrava previsto o desenvolvimento de um programa em conjunto com seis países constituintes da ex-URSS, com o objectivo da convergência dessas nações às leis e normas da UE, tanto a nível económico como político), colocou em risco a supremacia russa até à data sentida, uma vez que permitia o crescimento de interesses externos ao micro-clima estratégico dessa área.
Face a essa possibilidade, a Rússia decide agir e inicia um processo de pressão contínuo, que culminou com a desejada renúncia da Ucrânia face à parceria proposta.
A procura de Viktor Ianukovitch (Presidente Ucraniano) pela protecção russa, acabou por despoletar uma onda de protestos que originou a separação da população, consoante a sua área de influência e que acabou por levantar o véu às antigas quezílias, que nunca ficaram resolvidas e que decorrem directamente da implosão da União Soviética. Esta realidade é concretizada pela existência de duas facções contrárias, uma pró-russa que ambiciona a reintegração no País; e a outra pró-UE, que ambiciona o desenvolvimento de relações ocidentalizadas, aspirando novas possibilidades económicas, em detrimento do antigo controlo russo.
A resolução da problemática jaz sobre uma questão que muitos levantam, mas que poucos conseguem realmente responder:
Se a população da Crimeia autónoma exige a reintegração na Rússia, deverá esta ser reconhecida pela comunidade internacional?
SItes consultados:
- http://g1.globo.com/mundo/noticia/2014/03/entenda-crise-na-crimeia.html
- http://www.areamilitar.net/analise/analise.aspx?NrMateria=55
- http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=3560119&seccao=Europa
-http://www.publico.pt/mundo/noticia/crimeia-um-interesse-estrategico-de-que-a-russia-nao-quer-abdicar-1626838
-http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-85292006000100004
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