A queda de França na Segunda Guerra Mundial
iniciou uma preocupação francófila face à probabilidade do desenvolvimento de
ideais comunistas em território nacional. É face a esta probabilidade que começam a
surgir os primeiros conceitos de rendição, face ao poderio Alemão.
Esta perspectiva contemplava acima de tudo a
preservação das tropas, em número suficiente para combater a desordem pública
face a uma possibilidade os alemães poderem “... tomar o Poder numa Paris abandonada...”[1]
Inglaterra, face à realidade iminente, fazia
pressão para que o Governo Francês continuasse a guerra a partir do Norte de
África, contudo Weygand e Petain opunham-se a esta ideia convencidos de que a
ausência do Governo em território francês levaria à explosão do caos.
Logicamente o interesse inglês residia no
prolongamento do período de tempo, necessário para os Ingleses se prepararem
para a eventualidade dos ataques alemães. Contudo a queda francesa era
iminente, pelo que, a 16 de Junho, assume o poder Petain, presidindo um novo
Conselho de Ministros. “...a III
República estava efectivamente morta.”[2]
A partir deste momento Petain eleva-se com
um único objectivo, alcançar um armistício que acabou por se consagrar a 25 de
Junho. Deste acordo ficou assumido que a “...
Whermacht iria ocupar a metade norte de França e a Costa Atlântica...”[3].
Esta ocupação permitia um confronto directo com Inglaterra, da mesma forma que
fornecia aos alemães a entrada nos Pirinéus, em caso de se confirmar a
necessidade de avançar sobre o território Espanhol.
Por sua vez vez Petain fundou o seu Governo
na localidade de Vichy, dando origem ao conceito a “França de Vichy”.
De início o propósito de Hitler era deixar a
região mediterrânica à esfera de interesse italiano, contudo depressa descobriu
que a ocupação francesa detinha questões mais problemáticas do que estaria à
espera.
Acima de tudo tinha de “... tentar equilibrar as expectativas incompatíveis de Itália, da
França de Vichy e da Espanha de Franco.”[4] Na
perspectiva de Hitler seria mais proveitoso que o governo francês se policiasse
a ele próprio, assim como às colónias no Norte de África em nome dos interesses
alemães.
Na prossecução deste objectivo Hitler marcou
um encontro com Franco em Hendaye, território esse localizado na região administrativa da Aquitânia, nos
Pirenéus Atlânticos (área de influência alemã), com o objectivo de aliciar
Espanha a entrar na guerra e consequentemente a autorizar a entrada das tropas
em território espanhol, com o fim de tomar Gibraltar e os Açores e Cabo Verde.
“O Fuhrer vê o valor dos Açores em dois
aspectos. Quer tê-los para os ataques à América e para depois da guerra.”[5].
Outro
objectivo era precisamente o combate contra a Grã-Bretanha, onde pretendia construir
uma “vasta frente” de forma a aumentar as probabilidades de vencer o ataque.
No
decorrer desse encontro Franco reiterou as inúmeras passagens da Guerra Civil Espanhola,
em que ambos tinham sido “camaradas de armas”, contudo acabou por concluir que
derivado da situações ruinosa de Espanha, caracterizada pelo fraco
desenvolvimento económico e frágil capacidade militar, seria impossibilitado de
auxiliar Hitler entrando numa nova guerra.
Esta
renúncia poderá também ter estado relacionada directamente com o pacto de
não-agressão, decorrente dos acontecimentos da Guerra Civil Espanhola, assinado
em Março de 1939, onde se encontrava previsto no artigo IV que as partes eram
obrigadas “...a ressalvar as obrigações
no pacto em qualquer acordo ou tratado contraído no futuro com terceiras partes.”[6]
Esta cláusula representava uma salvaguarda para Portugal reforçando o
compromisso espanhol em nada negociar com outros países, acções que pudessem
colocar em causa a independência portuguesa.
Mais
tarde, em 29 de Julho de 1940, é assinado um Protocolo Adicional ao Tratado de
Amizade e Não Agressão, salientado-se “...
a obrigação de concertação mútua em caso de ameaça à inviolabilidade dos
respectivos territórios metropolitanos e à segurança ou independência de uma ou
de ambas as partes...”[7],
este protocolo vem reforçar o compromisso anterior na não beligerância entre as
duas nações.
Outro
aspecto de extrema importância que levou à renúncia foi a dependência das
importações de cereais e petróleo, oriundos da Grã-Bretanha e Estados Unidos. O
avanço para a Guerra resultaria no corte destes abastecimentos, situação essa
que seria impossível de compensar pelo apoio alemão.
Não
obstante esta decisão, os planos de invasão perante Portugal mantiveram-se,
tanto por parte da Alemanha, que após a contrariedade imposta por Franco,
decidiu focar a sua atenção para Este; como pela própria parte de Franco[8].
Assim
sendo, apesar de começar a focar os seus propósitos em outros objectivos, no
início de Novembro Hitler “... preparou planos de contigência com o nome de
código Operação Felix para a captura de Gibraltar e das ilhas atlânticas”[9].
Independentemente
dos objectivos para com as terras ibéricas, Hitler decidiu deixar os seus
planos de conquista de Gibraltar e de Portugal para mais tarde e focou-se no
combate a Inglaterra.
Convencendo-se
de que a forma mais fácil de obrigar os britânicos a ceder, seria derrotar a
União Soviética, deu início à Operação Barbarrossa, suspendendo o Plano Félix e
aplicando as tropas que estariam anexas a este nas operações contra o Leste.
E assim começou o declínio alemão.
[1] BEEVOR, Antony(2012), A Segunda Guerra Mundial, Bertrand
Editora, p.165.
[2] Ibidem, p. 168.
[3] Ibidem, p. 172.
[4] Ibidem, p. 199.
[5] Ibidem, p. 200.
[6] PEREIRA, Bernardo Futsher
(2012), A diplomacia de Salazar, Dom
Quixote, Lisboa, p181.
[7] RIBEIRO, António Silva
(2004), Organização Superior de Defesa
Nacional, Prefácio, Lisboa, p.182.
[8] Foi recentemente exposto
por Manuel Rós Agudo o plano do Alto Estado-Maior Espanhol onde se previa que,
em simultâneo com o ataque a Gibraltar, de forma a antecipar qualquer resposta
inglesa, Espanha lançaria preventivamente uma invasão a Portugal com o
objectivo de ocupar o território continental.
[9] BEEVOR, Antony(2012), A Segunda Guerra Mundial, Bertrand
Editora, p.202.
Bibliografia
- BEEVOR, Antony (2012), A Segunda Guerra Mundial, Bertrand
Editora, Lisboa.
- PEREIRA, Bernardo Futsher (2012),
A diplomacia de Salazar, Dom Quixote,
Lisboa.
- RIBEIRO, António Silva (2004), Organização Superior de Defesa Nacional, Prefácio,
Lisboa.